/INSTITUTO REGIONAL DE PROTEÇÃO À INFÂNCIA – parte I

INSTITUTO REGIONAL DE PROTEÇÃO À INFÂNCIA – parte I 6f4z3r

Foto de Aluízio Eduardo Raymundo, 2014. FONTE: Facebook

Estimados leitores e leitoras, o artigo desta edição é o resultado de uma coleta de dados sobre o histórico da construção do prédio do Instituto Regional de Proteção à Infância, mais conhecido em nossos dias como Lar da Infância. 3x2y1c

A pesquisa, iniciada em 2019, teve por objetivo sustentar um pedido de revitalização e tombamento desta edificação histórica, pouco valorizada atualmente em nosso município. O quê, infelizmente, não se efetivou.

O prédio atualmente abriga a Secretaria da Promoção Social da Prefeitura da Estância Turística de Batatais e tem seu uso cedido pelo Governo de Estado de São Paulo. Está localizado próximo ao Bosque Municipal Dr. Alberto Gaspar Gomes à Rua Coronel Ovídio, 508 – Bairro Riachuelo.  

Para saber um pouco mais da construção do prédio, buscamos as narrativas sobre suas fases de construção, ocupação e uso com base nas informações e dados fornecidos, principalmente, pelos jornais locais que circulavam em Batatais no final da década de 30 e início da década de 40: Gazeta de Batatais, Folha de Batatais, A Tribuna de Batatais e O Jornal.

No final da década de 1930, a imprensa batataense ou a divulgar artigos discutindo o aumento crescente dos desamparados sociais, em especial as crianças em Batatais, chamando à responsabilização a elite política e econômica da cidade, bem como a população em geral, para que juntos solucionassem esta situação, visando o “bem estar” social.  

Muito provavelmente, em função da situação exposta, surgiu um grupo de batataenses desejosos por construir na cidade um instituto de menores com vistas a amparar as crianças carentes locais e mesmo da região.  

 Por LS e AB

No final dos anos 30, a cidade de Batatais parecia um verdadeiro canteiro de obras, rumo à constituição de uma cidade patriota, ordeira e progressista, bem aos moldes esperados pelo regime ditatorial de Getúlio Vargas no período do Estado Novo (1937-1945).

(…) aos poucos Batataes vai preenchendo todas as lacunas no seu progresso. Cidade velha, remoçada graças ao carinho que tem recebido de todos os seus governadores, apresenta-se com um cartel de melhoramentos que a formam uma das primeiras do nosso Estado. (…). (FOLHA DE BATATAIS, 25/12/1937)

Com a leitura dos periódicos locais elencamos algumas transformações ocorridas em nossa cidade entre o fim dos anos 30 e início dos anos 40, tais como: ampliação da Igreja Matriz; construção da capela do Colégio São José e construção da Praça Padre Atílio Rossi; inauguração do Grupo Escolar do Castelo e Grupo Rural; mudança e construção de uma nova Estação de Ferroviária; construção das instalações do futuro Aeroclube de Batatais; inauguração do Hospital Major Antônio Cândido; reabertura da Escola Normal do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora; ampliação da Igreja Santo Antônio; finalização da construção da sede da A.B.R. Operária; abertura da Escola de Comércio Dom Pedro II, inauguração do Centro de Cultura Física de Batatais; criação dos jardins de topiaria na Praça Cônego Joaquim Alves por Jorge Sandrim, colocação dos bancos de granilite na mesma praça por iniciativa do senhor Jerônimo Martins do Carmo, entre tantas outras mudanças.

Transpondo a década de 30, entrando nos anos 40, ainda temos: o surgimento do Horto Florestal; a instalação do 3º Batalhão da Força Pública; a construção da Vila Vicentina; construção do Instituto Agrícola de Menores (IAMB); a modernização da Estrada Batatais – Altinópolis; a modernização de prédios prestadores de serviços, como Banco Arthur Scatena, Hotel São José; a remodelação da fachada do Clube 14 de março; a construção da Casa de Puericultura e do Centro de Saúde, discussão para construção de novos edifícios para o Fórum, a Cadeia e a Agência dos Correios, entre outros.  

Vale lembrar que muitas destas modificações foram impulsionadas pelas comemorações do Centenário da emancipação istrativa de Batatais, em 1939. Batatais, portanto, viria a se tornar uma cidade centenária, com melhoramentos e benfeitorias visando o ideal de progresso da época.

No final dos anos de 1930, temos como uma dessas benfeitorias, a idealização e construção do Instituto Regional de Proteção à Infância (IRPI), voltado para amparar e dar assistência às crianças e jovens órfãos ou abandonados da cidade e região. A construção do prédio e sua função social estão ligadas às idéias de progresso e promoção social estimuladas pelo governo federal.

Assistência aos desamparados – A assistência aos desamparados – menores e mendigos – constitui motivo de preocupação de todos os governos dos atuais povos civilizados. O espetáculo doloroso das chagas que se exibem e das crianças que perambulam famintas e esfarrapadas, nos grandes centros, representa motivo de luta permanente dos es, ansiosos por afastar essa chaga social. Problema dos mais complexos que compreende desde a apuração exata dos verdadeiros necessitados, expurgando os aventureiros tão comuns em tal gênero de atividade, até a forma de ampará-los, protegendo-os sem desintegrá-los da sociedade a que fazem parte por direito, foi erigido em apostolado pelo Governo do Presidente Vargas.

Efetivamente, se ainda não resolvemos, de forma absoluta, o problema empolgante – e não o fizeram, com mais tempo de esforços, outros povos cultos do mundo – muito já realizamos, entretanto, nesse terreno. Os abrigos de mendigos, obra generosa e inteligente, que o governo tem apoiado decididamente; as escolas profissionais para menores desamparados, que vão se disseminando pelos mais variados pontos do país, tudo concorre para que a Capital da República já não apresente esses espetáculos públicos de miséria e tanto depunham contra os nossos sentimentos de povo eminentemente caridoso. (GAZETA DE BATATAIS, 06/01/1938)

Essas crianças e jovens carentes e em situação de rua, eram estigmatizados como “chaga social”. Porém, o que acontecia era que essas crianças estavam em perigo, por pobreza, negligência, abandono, ociosidade, doença ou deficiência, e, portanto, conforme pensamento vigente, propensos a serem recolhidos e encaminhados às instituições de acolhimento que eram criadas para este fim. Essa vulnerabilidade social à época, não era tratada como fruto da desigualdade e conflitos sócio econômicos, e portanto, não era vista como responsabilidade do Estado.

À época, havia todo um discurso favorável à criação de espaços institucionalizados responsáveis pelo recolhimento de menores órfãos, abandonados e “delinqüentes” – conforme linguajar da época – com um modelo inovador e “regenerador” de educação, desde a aprovação do Código de Menores ou Código Mello Matos de 1927.

Proteger a infância! Velar para que a criança cresça forte em saúde e em espírito apta a ser um homem útil capaz e honesto. Ser para muitas crianças pobres e desvalidas os verdadeiros pais, ensinando lhes as primeiras letras, ao mesmo tempo lhes incutindo a noção do caráter. Guiar os os daqueles que tendo pais, não possuem ás vezes, meios de estudar e aprender. Formar da massa heterogênea de crianças vindas de todos os recantos um corpo só, homogêneo e o mais perfeito possível de cidadãos trabalhadores e capazes. Isso é velar pela infância, pelas crianças e pela Pátria! Tal será a finalidade do Instituto Regional de Proteção á Infância, idealizado em nossa cidade pelo espírito esclarecido de nosso íntegro Juiz de Menores, desejoso de ver as crianças de toda a zona dispor de uma casa própria, onde recebessem instrução e assistência. E esse ideal, apoiado com calor por todos aqueles que compreendem a sua alta finalidade, está breve de se tornar realidade. (FOLHA DE BATATAIS, 02/07/1938)

O Instituto Regional de Proteção à Infância recebeu, no decorrer do tempo, outras denominações conforme a instituição que o geriu, tais como: Casa da Criança, Instituto das Meninas, Educandário, Unidade Educacional – Febem, Lar da Infância, Casa Abrigo, entre outros nomes.

Podemos então afirmar que o prédio, ao longo do tempo, cumpriu uma função social de referência entre a população batataense e está ligado desde os primórdios à assistência social de crianças e jovens em estado de vulnerabilidade social, sejam moradores de Batatais ou procedentes de outras regiões, conforme a legislação ou interesses sócio políticos de cada época.

No início de maio de 1938, membros da sociedade batataense coadunados com os “ideais progressistas” do Estado Novo, assentados em conceitos como a promoção social, resolveram dar impulso a construção e implantação de um Instituto Regional de Proteção à Infância na cidade de Batatais com o objetivo de amparar as crianças abandonadas da região.

Para tal, é formada uma comissão executiva, encabeçada pelo Juiz de Direito da Comarca de Batatais na época, Dr. Virgílio Paschoal Argento e pelo prof. Arnaldo Laurindo, Diretor do Grupo Rural de Batatais para atuarem junto às diversas esferas político-governamentais e à população batataense a fim de angariar recursos para a construção de uma espécie de abrigo para meninos tendo como exemplo outras localidades paulistas.

Além dos idealizadores citados, foram membros da 1ª comissão executiva pró Instituto: o advogado e prefeito municipal, Dr. José Arantes Junqueira; o político, fazendeiro, engenheiro e co-proprietário da Fábrica de Chapéus, Dr. Bráulio Junqueira; o médico e fazendeiro, Dr. Luís Candido Alves; o político e fazendeiro, Cel. Manoel Victor Nogueira; o empresário e político, Anselmo Testa; o médico clínico e memorialista, Sebastião Martins de Macedo; o fazendeiro e político, José Procópio Meireles; o empreendedor, funcionário público e esportista, Gustavo Simioni; o advogado Guilherme Tambellini; o médico, fazendeiro e político, Dr. Jorge Nazar, entre outros. (FOLHA DE BATATAES, 11/05/1938 e GAZETA DE BATATAIS, 12/05/1938)

A comissão executiva pró Instituto coordenou a captação de recursos e impulsionou a construção do então desejado e já denominado Instituto Regional de Proteção à Infância. A comissão representou o esforço coletivo em prol do “bem social” e o desenvolvimento da cidade e região exatamente como se esperava dos grupos economicamente favorecidos e líderes políticos da época. A visão da responsabilização que se formava na sociedade sobre a criança e a infância na década de 30 estimulava a criação de grupos e modelos com esta função por todo o território nacional.

Os noticiários alardeavam que representantes locais e de municípios circunvizinhos participaram ativamente das subscrições: “(…) os beneméritos cidadãos, primeiramente procurados, foram o Dr. Domingos de Queiroz de Moraes, engenheiro e importante lavrador e o Dr. Bráulio Junqueira, também lavrador e engenheiro e industrial, contribuíram, respectivamente, o primeiro com a elevada quantia de 20 contos de réis, e o último com cem mil tijolos” (FOLHA DE BATATAIS, 14/05/1938); “graças a boa vontade dos batataenses e dos cidadãos das vizinhas cidades está se tornando patente realidade.” (O JORNAL, 07/08/1938); “Todo o madeiramento necessário feita pelo abastado fazendeiro no município de Jardinópolis, Cândido de Souza Pereira Lima, espírito culto e nobre, despretensioso e filantrópico.” (O JORNAL, 16/07/1938). A soma dos recursos arrecadados pela comissão pró Instituto era considerada vultosa pelo curto espaço de tempo da mobilização.

O local escolhido para a construção do futuro Instituto Regional, em terreno da municipalidade, foi ao lado do Grupo Escolar Rural, inaugurado em 1935, na região conhecida como “Alto do Santo Antônio” – nome dado pela proximidade com a Capela Santo Antônio existente na região desde a década de 10.

Em julho de 1938, apenas dois meses do início das mobilizações da comissão executiva, o local e a planta do futuro Instituto Regional já estavam determinados. “(…) a planta baixa foi elaborada pelo escritório Carlos Zamboni & Terreri, com sede em São Paulo” (GAZETA DE BATATAIS, 31/05/1938). Sendo um dos engenheiros responsáveis, o italiano radicado em Batatais, Dr. Carlos Zamboni.

Em outro periódico local encontramos maiores detalhes quanto à estrutura e localização do prédio:

() Será grande e majestoso o prédio a ser construído, tendo suas principais características: – comprimento total de 50 metros, por 12 de largura, com avanço central para ‘hall’ e escadaria. – dois andares, sendo o superior destinado a dormitórios, com capacidade para 100 internos – várias dependências na parte térrea, destacando-se, duas salas de aulas e cômodos para enfermaria –, amplo galpão para recreio. A construção será feita com grande capricho e a localização do prédio, moderno e vistoso, ficará em posição norte-sul, recebendo, pois pela manhã os raios do sol nascente, em sua fachada, ao o que a tarde, esses raios de iluminarão a outra face. E, mesmo que a sua construção seja feita exatamente no local que visitamos que é junto da antiga trincheira do alvo do tiro 26, a sua situação será ótima, em local de grande vista, amplo, arejado e visível de vários pontos da cidade. Achamos, porém, e isso vimos lembrar ao sr. Prefeito Municipal, a conveniência de prolongar em linha reta a rua Santos Dumont, no canto da Praça Riachuelo, até a atual estrada que vai da Capela Santo Antonio à Estação. No fim desse prolongamento, em local próximo ao estudado, porém mais alto e visível, localizar-se-ia o prédio do Instituto que ficaria fronteiriço à citada rua, vindo embelezar grandemente a cidade, que ganharia muito com essa modificação. (FOLHA DE BATATAIS, 02/07/1938)

 Órgãos da imprensa de localidades vizinhas e estaduais também se manifestaram favoráveis ao Instituto Regional e pontuaram a empolgação da sociedade batataense com o projeto, como pode ser observado pelo trecho da reportagem da Folha da Manhã de Ribeirão Preto (SP) do dia 13/07/1938 sobre as suas futuras instalações, conforme transcrito:

O ABRIGO PARA MENORES – noticia-se que, dentro de poucos dias, será lançada, a pedra fundamental do edifício destinado a um abrigo para menores, para tal fim, segundo consta, não contam os promoventes daquela cidade com nenhum auxílio oficial, sendo essa benemérita obra feita exclusivamente à custa de subscrição pública.

Verdade é que os habitantes de Batatais podem ser comparados com os ses de outros tempos, pois 90% dos habitantes da França tinham o seu pecúlio nas caixas econômicas, ou oculto em casa, no legendário “pé de meia”. Nessas condições, não será grande sacrifício para os habitantes daquela vizinha cidade construírem, à custa própria, esse edifício que grande benefício prestará aos menores desamparados. Também, Campinas – deu significativa nota – nesse sentido através de uma entrevista dada (…) demonstrando… fazer algo nesse ramo da assistência social. (FOLHA DA MANHÃ (RIBEIRÃO PRETO) in O JORNAL (BATATAIS), 26/07/1938)

O Correio Paulistano, a 05 de agosto de 1938, às vésperas do lançamento da pedra fundamental do futuro edifício do Instituto Regional, divulgou a presença do Interventor Federal, Dr. Adhemar de Barros (1938-1941) para a solenidade e ainda conhecer as dependências do recém-inaugurado Hospital Major Antônio Cândido.

(…) O Instituto Regional de Proteção à Infância, será um prolongamento do grupo escolar rural dirigido pelo prof. Arnaldo Laurindo que, terá, com a fundação do instituto, mais um campo para preparar as gerações de amanhã. O prof. Arnaldo Laurindo e seus auxiliares, terão dentro em breve, oportunidade de demonstrarem às populações do interior do Estado, a proeficiência e a técnica de seus ensinamentos. (…) (CORREIO PAULISTANO, 05/08/1938)

Em 07 de agosto do mesmo ano, é lançada a pedra fundamental do referido Instituto Regional de Proteção à Infância, com a presença do Interventor Federal do Estado de São Paulo, Dr. Adhemar de Barros e comitiva. De acordo com os jornais da época, o lançamento

procedeu-se com grande solenidade e em presença de avultado número de pessoas, tendo sido lavrada uma ata que foi lida pelo dr. José Arantes Junqueira, digno Prefeito Municipal,  usando, ainda, a palavra, o dr. Virgílio Argento, íntegro Juiz de Direito da Comarca e um dos que mais propagaram pela construção do Instituto, e o dr. Adhemar de Barros, que produziu belíssima e tocante oração. Lançada a benção pelo Monsenhor Joaquim Alves, encerrou-se, ao som do Hino Nacional, a urna contendo a ata e a pedra fundamental, finalizando a cerimônia. (…) (O JORNAL, 16/08/1938)

FONTE: O JORNAL, 26/10/1941 – fotografia tirada no dia do lançamento da pedra fundamental do Instituto em 07 de agosto de 1938 – Acervo: MHPWL

É possível observar na conotação do discurso do Interventor Federal de São Paulo, Dr. Adhemar de Barros, o caráter progressista incutido na criação do futuro Instituto Regional de Proteção à Infância, que também pontua a existência de outras iniciativas particulares locais, como o Orfanato Santo Antônio e já indica a futura construção de um Centro de Saúde para a cidade:

Batatais bem o merece e necessita. Bem o merece, porque tem buscado solucionar o problema da infância com visão altaneira e progressista. Assim é que já conta com um orfanato para crianças, dirigido pelas piedosas religiosas Salesianas; e dentro em breve terá em funcionamento seu modelar Instituto Regional de Proteção à Infância, que se acha em construção. Estes estabelecimentos são de iniciativa particular. Ora, uma cidade que procede desta forma, não demonstra zelar carinhosamente pela infância, fazendo causa comum com o Estado na solução de tão magno problema?

Ela não só o merece como dele verdadeiramente necessita, pois que é relativamente populosa, tem fábricas e população operária. Contudo, não só a população faz solicitação neste sentido, mesmo a população urbana e rural, que toda ela se avizinha da cidade, muito terá que se beneficiar com a instalação de um Centro de Saúde. (O JORNAL, 16/08/1938)

Visita à Batatais do Interventor Federal de São Paulo, Dr. Adhemar de Barros, em agosto de 1938, por ocasião do lançamento da pedra fundamental do Instituto Regional de Assistência à Infância ( IDENTIFICADOS: Adhemar de Barros, Frederico Marques, José Arantes Marques, Arnaldo Laurindo e a primeira-dama Leonor Mendes de Barros) – Fonte: MHPWL

O auspicioso acontecimento de 7 do corrente que plantando a primeira pedra do edifício do Instituto Regional de Proteção à Infância, marcou o início de uma obra de grande alcance social, é motivo de satisfação e orgulho, não só para os batataenses, mas, também, para aqueles que aqui radicados, convivendo conosco, aqui empregando o seu esforço e o seu labor, desejam o progresso de nossa terra.

E a prova de que assim é, temos, na magnífica acolhida por todos dispensada, a tudo que se relaciona com a ideia vencedora, de construir o Instituto. A aspiração do dr Virgílio Argento, ilustre Juiz de Direito da Comarca, que desde sua investidura nesse elevado cargo, sugere a criação de um estabelecimento de amparo aos pequenos abandonados, completada pela magnífica concepção do professor Arnaldo Laurindo, situando o funcionamento do Instituto em novos moldes de beneficência e de educação, que os membros convidados para constituírem a comissão incumbida de levar avante o empreendimento, adotaram, mereceu de todos, o mais decidido apoio e o mais franco entusiasmo, os quais vem sendo expressos de forma inequívoca pela maneira generosa com que tem sido acolhidos os apelos formulados.

Batatais, futura, não saberá dizer, sem receio de engano, a quem deveu mais favores na construção do seu Instituto de Proteção à Infância: se ao esforçado professor Arnaldo Laurindo, o patrocinador de suas finanças; se à infatigável comissão incumbida de construí-lo, no seio da qual avultam, pelo grande esforço e ação dinâmica que desenvolvem, os snrs. drs. Virgílio Argento, seu presidente, José Arantes Junqueira, digno prefeito do município e Sebastião Garcia Macedo; ou, se aos que compreendendo a grandiosidade da missão superior do Instituto, demonstrando seu entusiasmo, abrindo a bolsa, generosamente, para a consecução do ideal comum. A todos eles, Batatais, muito deverá.  (O JORNAL, 23/08/1938)

Sobre o Orfanato Santo Antônio, dirigido pelas Irmãs Salesianas, o O Jornal publicou:

O Orfanato Santo Antônio, desta cidade, é uma das excelentes instituições de caridade que vivem modestamente, prestando um benefício enorme à sociedade local. Ali são recolhidas meninas órfãs, reconhecidamente pobres e desamparadas. E é de ver a vida que levam, tratadas e educadas pelas Revmas. Irmãs Salesianas, que a mister dedicam muito do seu carinho e amor. Todos devem visitar o Orfanato Santo Antônio e contribuir para a sua manutenção e desdobramento, concorrendo com esmolas de qualquer espécie para a vida dessa instituição, útil e nobre como as que mais o sejam, onde se formam e educam as pobres meninas órfãs de nossa terra.  (O JORNAL, 04/10/1938)

Nos primeiros dias de 1939, próximo à data do Centenário da cidade de Batatais, uma nota com o título 14 de Março, questiona a morosidade na entrega das obras do Instituto Regional e de outras instituições, todas em execução, mas nenhuma finalizada:

Estamos, bem dizer, às portas do 14 de março de 1939 e, até o presente momento, nada de preparativos se nota para recebermos a data magna batataense. Muitos melhoramentos locais estão em execução e outros, que também já foram sugeridos, permanecem no esquecimento como sejam o do Instituto Regional de Proteção a Infância e o da nossa Escola da Aviação. (…)

O Instituto Regional de Proteção e Assistência a Infância, que há seis meses foi criado em Batatais, e que já conta com donativos excepcionais, permanece sem demonstrar um simples sinal de existência.

Não sabemos, francamente, o motivo que deu causa a trais fracassos de iniciativa da comissão incumbida de preparar a cidade para seu grande dia histórico, pois se ainda existe, não sabemos, porquanto não se aparenta e nem se move.

A nosso ver, e mediante o atraso das construções que se erguem presentemente, achamos mais prático e de efeito seguro, agarrarmos com o ultimo que é a Escola de Aviação, pois já conta com algum princípio e pode oferecer algo de importante e atraente para o nosso centenário.

Não podemos continuar à espera do que permanece duvidoso à luz dos olhos (…). (GAZETA DE BATATAIS, 05/01/1939)

Ainda assim, mesmo diante do exposto sobre a paralisação das obras de construção do Instituto Regional, circulou num dos jornais locais, nas edições comemorativas do Centenário de Batatais, um clichê da fachada do projeto. No clichê há a indicação de que o prédio estava em construção, ao mesmo tempo, os mesmos jornais noticiavam a estagnação da obra.

Clichê do Instituto Regional – escrito “Fachada do edifício em Construcção”
Edição comemorativa do centenário de Batatais da Folha de Batataes e O Jornal, 14/03/1939 – Acervo MHPWL

Com isso, podemos dividir a construção do prédio em três fases: a inicial, em 1938, que durou pouco mais de seis meses, com levantamento de terreno, planta, arrecadação de subsídios e início da construção; a segunda e intermediária, intercalando pequenos avanços e períodos de paralisação das obras, com escassas informações nos jornais locais e a terceira e última fase, entre 1943 e 1946, com a sua finalização.

A primeira interrupção na construção do prédio esteve ligada a alguns acontecimentos ocorridos no período, como o aumento e mesmo desaparecimento de alguns produtos importados, como o ferro e a própria carestia econômica imposta pelo conflito mundial iniciado em 1939, a Segunda Guerra Mundial.

Pode-se relacionar ainda à interrupção da construção com a saída da cidade de dois importantes entusiastas do projeto: o Juiz de Direito da Comarca de Batatais e presidente da Comissão Executiva pró Instituto, Dr. Virgílio Argento e o Prof. Arnaldo Laurindo que ou a ocupar o cargo de Diretor Geral do Departamento do Ensino Profissional na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.

A imprensa local, neste período de morosidade e mesmo paralisação das obras, tentou pressionar os membros da comissão executiva a dar continuidade ao projeto do Instituto Regional, por meio de várias notas e artigos, porém com pouquíssimas mudanças efetivas.

Um exemplo desses textos é autoral, assinado pelo médico local, Dr. Carlos Viana, denominado Instituto Regional, onde o autor faz alguns questionamentos:

(…) quando, já se vão muitos meses, foi aventada a ideia de construção nesta cidade de um estabelecimento destinado à proteção da infância, numa manifestação uníssona, todos que já tiveram conhecimento da mesma, não regatearam aplausos, como franca demonstração de apoio.

Em pouco essa ideia se concretizou na realização desse empreendimento digno de nota! A pedra fundamental foi lançada a lista de subscritores não encontrou recusas! Não nos é possível fazer um cálculo sobre as pessoas que contribuíram com a melhor boa vontade, nem avaliar a soma a que atinge a importância subscrita por não terem sido até a presente data, publicadas pela comissão, porém, sabemos de fonte insuspeita que foi um dos movimentos que entraram melhor acolhida no seio da nossa sociedade e mesmo entre autoridades municipais e pessoas de destaque, de outros municípios.

Assalta-nos o espírito um triste pressentimento. A paralisação das obras, que pelo tempo já deveriam estar terminadas ou quase, o arrefecimento no entusiasmo dos digníssimos membros componentes da comissão, enfim, esse como que pouco caso na hora presente, em flagrante contraste com o bombástico lançamento da pedra fundamental leva-nos a amargas conjecturas, receosos que estamos de que não haja mais interesse na consumação dessa obra de tão elevada e significativa finalidade.

Essa obra já se absorveu uma importância que não poderá ser desprezada; que em hipótese alguma poderá ser relegada para o rol das coisas inúteis, tão do agrado de certos espíritos; essa construção que, dominando os altos da colina sul de Batatais, hoje apenas se esboça e, amanhã concluída, será um monumento digo de iração de todos, se não pelo conjunto arquitetônico, ao menos pelos fins a que se destina, faz parte integrante do patrimônio de assistência social batataense e não poderá ser, de forma alguma, perecer, porquanto o obstáculo de maior monta essas realizações – falta de numerário – foi prontamente removido pela boa vontade de todos.

(…) Assim sendo é de imperiosa necessidade uma satisfação dada pela comissão, apresentando os motivos que justifiquem essa parada tão desagradável das obras do Instituto Regional. Batatais 21 de janeiro de 1940 (a) Dr. Carlos Viana. (TRIBUNA DE BATATAIS, 21/01/1940)

Ou neste outro texto denominado de E o Instituto?

Ao que parece foi relegado mesmo para o esquecimento o projetado e começado Instituto Regional de Proteção a Infância. Iniciada a campanha pró sua construção com grande entusiasmo, organizada uma comissão angariadora de donativos e, também encarregada da construção, o entusiasmo inicial foi tão grande que nós chegamos mesmo a afirmar que ainda no ano do centenário, veria Batatais e veriam também todas as cidades que para isso concorreram, pronto o prédio do futuroso Instituto.

E quando tudo isso indicava, quando tudo podíamos esperar da esforçada comissão, eis que a mesma parou subitamente com todo serviço, com todos pedidos, com toda arrecadação. Forçosamente houve poderoso motivo para provocar essa paralisação, incompreensível, porém para nós, para o público, máxime que não houve comunicado algum a esse respeito.

É tempo, porém de se dar um jeito no caso do Instituto, pois no pé em que as coisas estão é que, em absoluto não podem ficar. Ainda há pouco, talvez provocada por alguma nota de um jornal local ou por estimulo individual de algum membro da comissão, houve um espetáculo cinematográfico a cinco mil réis a poltrona em prol do Instituto. E ficou-se nisso!? (FOLHA DE BATATAIS, 13/04/1940)

No texto Pro Infância, da Folha de Batatais de 02 de novembro de 1940, tratam de uma possível retomada da construção do prédio:

É com prazer que transmitimos aos nossos leitores desta e das cidades vizinhas uma noticia de há muito esperada. Cogita-se da continuação da campanha pró ‘Instituto Regional de Proteção à Infância’ essa grande e monumental obra idealizada iniciada, visando proteger nossas crianças.

O nosso integro Juiz de Direito, dr. Euclides Custódio da Silveira, ao assumir suas funções em nossa comarca, voltou logo a sua atenção para os vários problemas da mesma. E, compreendendo de relance, o enorme benefício que para a comarca, para o Estado e para a Pátria, viria trazer à infância desvalida a conclusão da obra iniciada pelo seu antecessor, o Dr. Virgilio Argento, tornou-se um dos seus entusiastas apologistas.

Presidente natural da comissão encarregada de conseguir donativos e da construção do prédio, encontrará S.S. o mais decidido e franco apoio em todos os membros e também no seio do nosso povo.

Que se inicie logo o prosseguimento da campanha Pró Infância, são, pois, os nossos votos. (FOLHA DE BATATAIS, 02/11/1940)

Porém, a luta pela retomada da construção do prédio ainda permanece em 1941. Na edição de 16 de janeiro de 1941, O Jornal apresenta o artigo Pobres Meninos.

Permanece insolúvel o problema dos menores que perambulam as ruas da cidade, durante dias inteiros e parte das noites, alguns fazendo ‘artes’ inconcebíveis e outros, mais infelizes ainda, pedindo esmolas de porta em porta. É deveras constrangedor o espetáculo que diariamente a cidade nos oferece: crianças maltrapilhas, subalimentadas, anjinhos de cara suja’, que deveriam ser a alegria da casa de seus pais e paradoxalmente são a tristeza da cidade; meninos que não têm família e vivem por aí às expensas de gente pobre, que mal pode cuidar do seu próprio sustento, como esses outros, mais descolados e endiabrados, que logram meios e modos de fugir a vigilância e a autoridade paterna, para invadir quintais e traquinar a solta pelos arrebaldes e pelo centro, desrespeitando a propriedade e os transeuntes – estão a reclamar urgentemente uma solução humana para o complexo caso da sua criação.

Por que, afinal, serão eles os homens da sociedade de amanhã. E que se pode esperar de uma INFÂNCIA assim desorganizada e desprotegida? E a gente pensa no Instituto Regional de Proteção á Infância, que lá no Alto da Caixa d´Água lançou os seus alicerces e fez nascer no coração do povo a esperança de ver logo acolhidos os menores desamparados para alguns meses depois estacionar com as paredes apenas começadas, numa situação desoladora de paralisia e abandono. (a) André. (O JORNAL, 16/01/1941)

 A Tribuna de Batatais apresenta mais uma vez, um artigo questionando a paralisação das obras e uma sugestão diferenciada para novas arrecadações de verbas para sua construção. Vale apontar que durante todo esse tempo, o Estado ou a União não foram pressionados a se envolver nessa demanda,

Quando Diretor do Grupo Escolar Rural de Batatais, o prof. Arnaldo Laurindo teve a ideia grandiosa de criar aqui o Instituto de Proteção á Infância. Para isso deu os primeiros os na Capital, entendendo-se com as autoridades superiores do ensino. Voltando à Batatais convidou diversas pessoas de destaque social e, incontenti, com o auxílio dadivoso de alguns senhores de largo descortino de vista, deu início às obras. ´

Tendo que ir para São Paulo, onde fora ocupar relevante cargo na Secretaria da Educação, deixou o prof. Arnaldo Laurindo o serviço da construção do Instituto em andamento promissor.

Um dia, porém, com surpresa geral, pararam os serviços tão auspiciosamente iniciados. E, ainda hoje, lá estão as paredes que se começaram a erguer. Ninguém, de modo positivo, diz qual a razão que obrigou a se interromper os trabalhos.

Uma nova esperança veio, de novo, alegrar os batataenses: Diz-se que o novo M.M. Dr. Juiz de Direito da Comarca está animado dos mais altos propósitos a fim de se reiniciar os serviços inexplicavelmente paralisados.

Agora mais uma vez, será posta à prova a boa vontade dos batataenses no auxílio para a edificação do futuro Instituto de Proteção à Infância.

Deste cantinho da ‘Tribuna de Batatais’, expomos ao esclarecido espírito do prof. Armando Barbirato, atual diretor do Grupo Escolar Rural de Batatais, uma ideia. Poderia o prof. Armando Barbirato, de acordo com os srs. Diretores dos grupos escolares ‘Washington Luis’ e ‘Castelo’, em palestras dos professores aos alunos, aconselhar a estes, quando chegar a época própria, plantar nos quintais de suas casas alguns pés de milho, entregando depois as espigas colhidas ao Grupo Rural que se incumbiria da venda do produto colhido.

Calculamos em quase mil os alunos dos nossos três grupos escolares. Suponhamos que cada uma dessas crianças entregue, do produto de seu trabalho, cinco espigas e ter-se-á uma quantidade apreciável que, vendida, será um ótimo auxílio para as obras do Instituto.

Desse modo as crianças de Batatais, com esse trabalho que será além de grandioso incentivo, um salutar e nobre entretenimento, contribuirão para dotar sua terra com o Instituto de Proteção à Infância que, no futuro, agasalhará outras crianças menos favorecidas pela sorte, ministrando-lhes, com o teto agasalhador, o ensino que as fará dignas e orgulhosas da grande Pátria onde nasceram. (TRIBUNA DE BATATAIS, 02/03/1941)

Enfim, em meados de 1941, uma renovada comissão executiva é estruturada e as obras do prédio do futuro Instituto Regional tomam fôlego, tem início um novo período da construção do Instituto Regional:

(…) as obras do majestoso edifício já se reiniciaram e foram tomadas todas as medidas e deliberações a fim de que, em meados de julho próximo vindouro, esteja terminada a segunda parte do contrato firmado entre a Comissão Executiva e o engenheiro-construtor, isto é, o andar térreo em toda a extensão do prédio e cobertura de parte do mesmo. Integram a Comissão Executiva atualmente os srs. dr. Euclydes Custódio da Silveira, dr. José Arantes Junqueira, dr. Antonio Genésio Caldas, dr. Luis Candido Alves, dr. Jorge Nazar, adv. Guilherme Tambellini, dr. Braulio de Andrade Junqueira, prof. Armando Barbirato, Marcelo Girardi, cel. Manoel Vitor Nogueira, Gustavo Simioni, José Jorge Yunes Abeid, Anselmo Testa, Joaquim Barbosa Júnior, Sebastião Martins de Macedo e mais uma pessoa de destaque na sociedade local cujo nome se encontra em reserva [no caso, José Martins de Barros]. (O JORNAL, 29/05/1941)

 (…) O edifício já se encontra à altura das arquitraves e as obras estão paralisadas por alguns dias em virtude da falta de ferro, para construção, cuja aquisição foi muito dificultada pelo conflito europeu, informando, entretanto, o engenheiro que empreitou a obra, que esse material já foi adquirido. (O JORNAL, 17/07/1941)

(…) vai ser, em breve, contratada a conclusão de mais uma parte das obras, devendo ficar pronto até o fim deste ano, o andar superior, coberto e apoiado em sólida laje de concreto. E isso, repetimos será ainda este ano, de modos a ficar a comissão apta a atacar, em 1942 a última e mais custosa parte do prédio, ou seja, o acabamento final (…). (FOLHA DE BATATAES, 16/08/1941) 

Para ampliar o número de doações, a Comissão Executiva publicava nominalmente as subscrições que recebia, sempre reafirmando que a finalização do prédio do Instituto Regional estava garantida: 

(…) Com prazer, registramos o donativo da família do saudoso dr. Honório Olyntho Machado acaba de fazer ao Instituto, com homenagem ao seu aniversário. (FOLHA DE BATATAIS, 21/06/1941)

(…) Podem dar bem uma ideia do que seja esse movimento os donativos recebidos em dois dias (26 e 27 do corrente) de trabalho assaz fecundos. (…) Assim são eles, por ordem alfabética de : José Martins de Barros, cel Manoel Victor Nogueira, Joaquim Antonio Alves Pereira, dr. Luis Candido Alves, Anelusco Soave, Francisco Aleixo, Major Chrisanto Alves Ferreira, cap. Alcebíades Borges, Marcello Girardi, Francisco Zapparolli, Joaquim Eduardo da Silva, Dr. José Arantes Junqueira, Zefferino Girardi, Dr. Euclides Custodio da Silveira, Dr. Antonio Genesio Caldas, dr. Sebastião Martins de Macedo e Irmãos Zanella. Por aí se pode ver a alma generosa, o coração magnânimo do nosso povo, sempre pronto para amparar e prestigiar as boas causas (…) (O JORNAL, 31/07/1941)

 (…)Subscreveram: Anselmo Testa & Irmão, Escritório de Advocacia dos srs. Guilherme Tambellini e Jesus machado Tambellini, José Augusto do Nascimento, Jeronymo Mqartins do Carmo, Pladino Alves da Costa, Alcino Ribeiro Meirelles, Mario Zapparolli, Pedro Zanetti, Sebastião Alves de Oliveira, Anselmo Testa, José Testa, José Jorge Yunes Abeid, João Martins de Barros, Juliano Bologna, Ezilia Benedini, Carlos Fugazzola, Luiz Pimenta Neves e senhora, Irmãos Venturoso, João Zanetti, Irmãos Antonelli, Angelo Scavazza, Ernesto Pupim (…). (O JORNAL, 14/08/1941)

(…) a Comissão acaba de receber por intermédio do sr. José Martins de Barros, uma desvanecedora carta do sr. Rizoleto Lima, de conceituada firma do alto comércio de café, em Santos, pela qual se subscreve a quantia de cinco contos de réis (5:000$000), num largo gesto, generoso e nobre (…)  para a infância desvalida que imperativamente necessita de pão e teto (…) Pelo que já se pode afirmar com toda segurança: O INSTITUTO ESTÁ CONSTRUÍDO! (O JORNAL, 11/09/1941 e FOLHA DE BATATAIS, 13/09/1941)

Em 1941, embora tenha havido uma retomada na construção do Instituto Regional; as obras voltaram a ficar paralisadas entre os anos de 1942 e 1943, ou seja, novo período de estagnação. Coincidência ou não, artigos sobre o estado de abandono de algumas crianças e jovens da cidade aumentavam quando as obras do Instituto Regional estavam paradas. Provavelmente retratavam uma situação próxima à realidade local:

Problemas Locais – Pedintes – Para abertura desta nota proferimos o termo acima a outro que poderia ser pobres, mendigos ou mesmos …vadios. É enorme o número dos que percorrem a cidade, diariamente, batendo em quase todas as portas solicitando esmola, um prato de comida ou pouco de qualquer cousa. E nesse bando de pedintes avulta o número de crianças, que não sabemos se tem ou não tem pais ou tutores, sendo de se notar que são inúmeros os pares que fazem diariamente a via sacra com latinhas onde recolhem sobras de comida (…). (FOLHA DE BATATAIS, 27/12/1941)

Menores – Dentro de algum tempo, presumimos mais ou menos dois anos, a nossa zona terá uma grande casa onde serão abrigados algumas centenas de menores, órfãos ou não, mas todos necessitados de instrução e de amparo. O programa do Instituto é vasto e só mesmo depois de uma completa instalação é que veremos o que o mesmo abrangerá no campo social. O que é certo porém é que, veremos o que com o avançar do progresso das leis sociais cada vez mais seria, mais complexa, porém vem se tornando a assistência aos menores de 14 anos; ao governo da União cabe estudar e resolver com presteza todos os problemas referentes aos mesmos. (…) (FOLHA DE BATATAIS, 03/01/1942)

Menores – É um espetáculo comum o vermos, desde as primeiras horas do dia um grupo de crianças de seis a doze anos, batendo de porta em porta á procura de sobras de comida ou pão. (…) Cremos que seria acertado proceder a digna autoridade policial a uma severa fiscalização, averiguando da necessidade desses pequenos mendigos como seus pais, quando for verificada a desnecessidade dos pedidos. (…) Vão crescendo, vadias e sem compostura, na elaboração de elementos perniciosos quando homens feitos. (FOLHA DE BATATAIS, 21/03/1942)

Meninos Pedintes – Cresce, cada vez mais, o número de meninos que durante o dia todos vivem batendo ás portas de várias casas pedindo sobras de comida. (…) Serão pois mãos elementos da sociedade em dias bem próximos (…). (FOLHA DE BATATAIS, 18/07/1942)

Infância Desamparada – (…) há crianças que ficam por aí aos azares da sorte, chegando a pernoitar em casas abandonadas como a que existe na Praça Barão do Rio Branco ao lado da cadeia, e onde morreram alguns tuberculosos. (…) As autoridades batataenses precisam pagar essa nódoa de miséria que macula a cultura batataense. Ao lado de uma bem orientada repressão aos pequenos transviados, outra medida se nos apresenta imperativa: acabar de vez com certos prédios infectos (…). (TRIBUNA DE BATATAIS, 30/05/1943)

Na gestão municipal do Dr. Frederico Arantes Junqueira (1943-1946) voltaram a aparecer na imprensa escrita, notícias mais efetivas sobre o Instituto Regional, dando início a terceira e última fase de construção do prédio iniciado em 1938.

Na ocasião, o Interventor Federal do Estado, Dr. Fernando Costa e seu secretariado visitaram a cidade para paraninfar a 1ª turma de alunos da Escola de Pilotagem do Aeroclube da cidade com a presença de diversas autoridades estaduais, regionais e municipais. Dessa visita surgiram várias promessas e acordos políticos. (sobre o Aeroclube de Batatais, ver /primordios-do-aeroclube-de-batatais-decada-de-40/ )

As novas notícias deram novos rumos em relação ao prédio inacabado do Instituto Regional. Em 1943, o governo estadual, por intervenção do Secretário da Agricultura do Estado, o batataense Dr. Paulo de Lima Corrêa, indica Batatais para receber uma escola de aprendizado agrícola para menores desamparados. Também chamada de Instituto de Reeducação de Menores ou Escola Reformatória de Menores.

Desde o início, o prédio do Instituto Regional foi descartado para se tornar o futuro Instituto de Reeducação de Menores. O novo projeto de aprendizado profissionalizante exigia um local mais amplo.

 E COM O PRÉDIO INACABADO DO INSTITUTO REGIONAL DE PROTEÇÃO À INFÂNCIA? O QUE FAZER?

 Continua na próxima edição.